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Amor Como Terapia

Amor Como Terapia

Em entrevista o site Jornalismo Espírita, o médico Gilson L. Roberto fala sobre o Amor como Terapia.

 

Nome: Gilson Luis Roberto.

Idade: 44 anos.

Profissão: Médico formado pela PUCRS em 1991, especialista em Psicologia Analítica Junguiana,  homeopata,  Presidente da Associação Médico-Espírita do Rio Grande do Sul (AMERGS), Vice-Presidente do Hospital Espírita de Porto Alegre e Presidente da Sociedade Espírita Amor do Mestre Jesus.

 

1. J.E. O que é a Terapia do Amor?

A Terapia do Amor é a prática do Evangelho sintetizada nas palavras de Jesus: “ame ao teu próximo como a si mesmo”.

Na área profissional ela começa pelo profundo respeito ao seu paciente. A palavra respeitar vem do Latim, respectare, que significa olhar com mais atenção, olhar uma segunda vez. Este é o ponto inicial e fundamental. É necessário que o paciente se sinta acolhido e ouvido pelo profissional. Isso gera confiança no médico e no tratamenro, facilitando o avanço no processo terapêutico.  A partir daí existem diversas ações, desde mentalização do órgão afetado, a busca de uma atitude mais cuidadosa e amorosa consigo mesmo, da auto-aceitação e até do apoio afetivo através dos grupos de voluntários. O trabalho do profissional é o de favorecer ao paciente a possibilidade de um novo caminho que o levará a se valorizar, auto-perdoar-se e amar-se. Isto significa também fazer com que o paciente se sinta capaz de contribuir para um mundo melhor, ofertando-lhe o seu amor.

 

2. J.E. Como ela pode auxiliar o tratamento nos hospitais?

Essa atenção, esse carinho dispensados aos pacientes é fundamental para a sua recuperação.

O amor tem um incalculável poder de cura. Seu poder de ação é enorme, atingindo não apenas aqueles que o recebem, mas também aqueles que o doam e a todos que de alguma forma são contagiados pela sua expressão. O amor consegue alcançar níveis profundos da individualidade e do corpo de uma forma intensa e muitas vezes imediata, alcançando uma resposta superior aos mais potentes antibióticos ou antidepressivos. As emoções geradas pelo amor provocam reações neuroquímicas instantâneas, com consequências impressionantes no sistema imunológico e na mente humana. 

A prática do amor é exercida pela doação do nosso tempo e carinho através das visitas afetivas e da prestação do auxílio espiritual, como o exercício da prece e do passe.  Isso auxilia na diminuição do uso de analgésico, diminui o tempo de internação, melhora a resposta imunológica do paciente e sua sobrevida. 

 

3. J.E. De que maneira acontece a receptividade do paciente ao amor e a prece?

A receptividade é muito maior do que se pensa. É claro que tem que haver um preparo para se chegar ao paciente, ao mesmo tempo em que se respeite a sua cultura religiosa.

Uma pesquisa médica feita nos Estados Unidos demonstrou que a maioria dos pacientes gostaria que o seu médico falasse sobre Deus e espiritualidade. Isso é muito significativo. Além de evidenciar a necessidade de oferecer um maior espaço na prática médica para a espiritualidade, demonstra que a maioria dos profissionais ainda não estão preparados ou conseguem identificar essa necessidade. No entanto, esse é um anseio de enorme importância ao paciente. Muitos se encontram com medo e até abandonados pelas suas famílias num momento crucial de suas vidas. Uma atitude de carinho, uma prece junto ao paciente faz uma diferença enorme.

Embora muitos hospitais já contem com um grupo de apoio espiritual, vejo que a dificuldade maior ainda reside na equipe profissional pelo desconhecimento deste instrumento poderoso de auxílio à cura,  pela da nossa incapacidade de amar com profundidade e plenitude, além da falta de estímulo e preparo afetivo para essa ação.

 

4. J.E. Como a oração pode ser decisiva nos casos de doenças graves como o câncer?

Dentro oncologia tem se pesquisado muito a importância do amor e da prece, através dapsiconcologia e da psiconeuroimunologia, no processo de adoecer e de cura.

A oração muda nossas ondas mentais provocando uma reação neuroquímica que vai afetar todo o nosso organismo. Só o fato de se orar já apazigua o íntimo, destenciona o corpo e fortalece a resposta imune. Além disso, temos a resposta do alto através dos eflúvios salutares e das inspirações amigas. Com certeza esse processo tem repercussões fundamentais na melhora geral do paciente, tanto a nível físico como emocional e espiritual. 

 

5. J.E. Qual o conselho para as pessoas que alimentam raiva e mágoas por anos?

Que busquem no perdão a superação dessas raivas e mágoas. Toda raiva e ressentimento geram descargas emocionais destrutivas para a saúde física, estabelecendo um padrão de difícil manejo com repercussões graves em nosso perispírito. Podemos comparar essas emoções a verdadeiros venenos que necessitam ser combatidas com eficiência para evitar a formação de feridas psíquicas que corroem nossas defesas orgânicas e espirituais.   

 

6. J.E. O perdão traz quais benefícios para a saúde?

Sem dúvida, todo o esquecimento do mal nos afasta do mal e nos liberta do passado permitindo espaço para o surgimento de novas forças criativas em nosso mundo emocional. Quem não perdoa fica fixado no passado e alimentando um sentimento destrutivo.

Todas as nossas emoções têm um contraponto fisiológico, gerando uma cascata de eventos neuroquímico, hormonais e imunológicos.  O perdão desafoga nosso íntimo, nos libertando do jugo dos pensamentos conflitantes e desajustados, favorecendo a retomada do equilíbrio neuropsíquico e imunológico.

 

7. J.E. Porque o filme Path Adams chamou tanta atenção?

Sua mensagem ultrapassou o entendimento cognitivo e alcançou o coração, nos sensibilizando para esse olhar mais afetivo ao ser humano.  

A “Terapia da Alegria”, inspirado pelas ações do médico norte-americano Hunter “Patch” Adams,  imortalizado em filme por Robin Williams, já são realidades em inúmeros hospitais. Algumas faculdades  médicas estimulam e oferecem cursos aos seus estudantes de medicina para levarem alegria às crianças internadas, visando um atendimento  mais humanizado. A prática não tem apenas a intenção imediata de divertir a criança internada, mas de despertar o estudante para a necessidade de entender o paciente como um ser humano total e não apenas como um órgão doente. Tanto na "terapia da alegria" como no projeto “Doutores da Alegria”, os pequenos doentes encontram, mais que tratamento, amor. Elas apresentam melhoras no humor e na atividade, têm um sono mais tranqüilo, demonstram maior disposição para se alimentar, há benefícios relatados até de diminuição nas queixas sobre dores no corpo. O trabalho auxilia a superação do medo que muitas crianças têm de médico e de hospital.

 

8. J.E. O conhecimento da Doutrína Espírita é um antídoto contra a revolta de doenças graves?

A Doutrina Espírita nos dilata a nossa visão de mundo e de homem, ampliando o nosso entendimento da vida e trazendo clareza sobre as causas profundas nas nossas dores.

Passamos a compreender que as causas da nossa felicidade ou infelicidade residem dentro de nós e que toda patologia tem um significado e uma finalidade. A doença é um convite para que o nosso olhar ultrapasse a visão superficial corpo e alcancemos a alma com vistas a nossa educação em busca de um futuro que nos aguarda de plena saúde e felicidade calcada na paz de espírito.    

 

9. J.E. Como a espiritualidade da pessoa ajuda em sua transformação pessoal?

As duas coisas estão intimamente relacionas. Espiritualidade é o exercício de vida interior para o desenvolvimento dos nossos potencias mais nobres de alma e naquilo que Viktor Frankl chamou de “a humana busca por sentido”.

A nossa transformação pessoal é estimulada pela espiritualidade ao mesmo tempo em que determina o nosso nível de espiritualidade. 

 

10. J.E. A reforma íntima aliada a fé pode ser uma ponte para a cura?

Podemos afirmar que a verdadeira cura só se alcança pela reforma íntima apoiada na fé.

 

11. J.E. Você vivenciou algum caso de cura em que a fé e o amor foram fundamentais?

Ainda como acadêmico de medicina durante o estágio no Hospital de Pronto Socorro em Porto Alegre conheci uma história que me marcou profundamente. Uma paciente foi internada nesse hospital devido a queimaduras provocadas por um incêndio. Eram queimaduras graves, de grande extensão por todo o corpo. Estávamos com muitas dificuldades em manter viva aquela paciente que respondia muito mal aos tratamentos preconizados. Para piorar a situação, ela encontrava-se muito deprimida. Ela havia sido abandonada pelo marido e não sentia vontade de continuar vivendo. Na verdade ela não queria melhorar para continuar viva e estávamos perdendo a batalha. Aí aconteceu uma situação inusitada. Por aqueles "mistérios" do amor e que só o amor pode explicar, um funcionário da limpeza, que diariamente realizava a faxina no ambiente, começou a se interessar pela paciente e ela por ele. Apaixonaram-se.  Agora ela tinha uma razão para continuar vivendo. A partir dali a paciente começou a apresentar uma melhora fabulosa. Aquele funcionário conseguiu o que nós médicos com toda  nossa ciência não estávamos conseguindo, salvar aquela paciente. 

Quando falamos do amor não estamos se referindo a atos grandiosos e heróicos. Ao contrário, falamos de atitudes simples: um olhar, uma atenção afetuosa, um sorriso, uma conversa amiga... masque podem significar muito para aquele que recebe e mudar a sua vida. 

O amor salvou a vida daquela paciente e pode também salvar as nossas vidas. 

 

 

12. J.E. De que maneira o Evangelho no Lar fortalece o enfermo?

O Evangelho no Lar é um convite para a visita do Cristo.  Nesse momento o lar se abre para a sua Presença, favorecendo o ambiente para que a espiritualidade amiga nos traga tudo aquilo que necessitamos para nossa paz e harmonia.

 

13. J.E. A esperança do paciente, mesmo nos casos terminais, favorece em que sentído?

Dá-nos coragem para suportar as adversidades naturais da doença e nos mantermos lutando pela saúde.

 

14. J.E. Deixe sua mensagem sobre a cura pela fé e pelo amor?

Não existe vida sem fé e sem amor. Mesmo o materialista precisa acreditar em algo, nem que seja na matéria e na ciência. Se assim não fosse, ele não entregaria seu corpo para cortá-lo numa cirurgia. Mas quando a ciência materialista não consegue oferecer mais nada, quando as esperanças na ciência acabam, é a fé espiritual a única capaz de dar  sustento e o consolo. Já vi muitos pacientes em situações irremediáveis que dariam tudo que adquiriram materialmente em troca de um pouquinho de fé.

Uma pesquisa revelou que as pessoas que assistiram imagens de violências tiveram uma diminuição das imunoglobulinas tipo A na saliva, devido às emoções negativas provocadas (diminuição da resposta imune), enquanto que as mesmas pessoas tiveram um aumento das imunoglobulinas tipo A (melhora da resposta imune) ao presenciarem as imagens da Teresa de Calcutá, com seu intenso amor, amparando os doentes.

Se as imagens do amor produzem um benefício significativo na saúde, imagine vivendo esse sentimento no dia-a-dia.

Aquele que ama e acredita, tem maior capacidade de sair de si em direção ao outro. Isso lhe dá maior flexibilidade e capacidade para enfrentar melhor a vida e de forma mais criativa.

O egoísta, ao contrário, espera que todos e venham e sua direção, ficando aborrecido e infeliz quando não tem alguém que lhe sirva um simples café.

O amor dá sentido à vida e ao mesmo tempo um norte. Ele é o alfa e o ômega das nossas vidas. Ao mesmo tempo que nos motiva e nos impulsiona é  o nosso objetivo final. Quando ele nos falta ele nos atrai. É pelo amor, no seu sentido mais profundo, que buscamos às virtudes, e é ele ao mesmo tempo que nos liberta delas. Pois as virtudes só se justificam pela falta em nós do amor.   

O amor ultrapassa a superfície do nosso corpo para curar as feridas mais profundas de nossas almas.

 

 

 

 

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\"Nascer, Morrer, Renascer ainda e Progredir sem cessar, tal é a Lei.\" ALLAN KARDEC